Um antídoto contra a solidão – Entrevistas com David Foster Wallace

Esta coleção de entrevistas com David Foster Wallace é uma das coisas mais inspiradoras que já li. Que livro maravilhoso, cheio de insights sobre literatura e arte em geral. A voz frenética de Foster Wallace chega até nós daquela maneira cativante que o fez mundialmente famoso como escritor de não-ficção, e daquela maneira torrencial que o fez mundialmente famoso como escritor de ficção. Há uma lucidez e uma sabedoria imensas, que me impedem de escrever algo mais elaborado, algo além de: leiam. Qualquer pessoa que ame literatura vai amar esse livro. Transcrevo uns trechos aqui:

“Em tempos sombrios, a definição de boa arte parece que seria a arte que localiza e tenta ressuscitar aqueles elementos do que é humano e mágico, e que ainda sobrevivem e brilham apesar das trevas.”

“Eu descobri que a disciplina mais complicadinha na hora de escrever é tentar brincar sem se deixar dominar pela insegurança, pela vaidade ou pelo ego. Mostrar à leitora que você é esperto ou engraçado ou talentoso ou sei lá o quê, tentar ganhar estima, sem contar as questões de integridade, isso tudo não tem calorias motivacionais que te sustentem a longo prazo. Você precisa se disciplinar para dar voz à sua parte que ama aquilo, que ama o que você está escrevendo. Talvez a parte que ama, ponto.”

“Esses anos foram bem áridos pra mim, em termos de trabalho decente, mas acho que a única forma de progresso que senti foi que fiquei convencido de que há algo meio atemporalmente vital e sagrado na boa prosa. Isso não tem muito a ver com talento. O talento é apenas um instrumento. É como ter uma caneta que funciona em vez de uma que não funciona.”

“A leitora sai da arte de verdade mais pesada do que quando chegou. Mais plena. Toda a atenção e o envolvimento e o trabalho que você precisa conseguir da leitora não pode ser em seu próprio nome; tem que ser por ela.”

“Tem tanto entretenimento comercial de massa por aí que é tão bom e tão bem-feito, numa proporção que eu acho que nenhuma outra geração já confrontou. É essa a sensação de ser escritor hoje. Acho que é o melhor de todos os tempos para se viver e possivelmente o melhor tempo para ser escritor. Não sei se é o mais fácil.”

“Quase todos os escritores que conheço são umas criaturas híbridas. Rola um intenso veio egomaníaco, junto com uma timidez extrema. Escrever é meio um exibicionismo entre quatro paredes. E também rola um tipo estranho de solidão, e um desejo de ter alguma espécie de conversa com as pessoas, mas não uma grande habilidade de fazer isso pessoalmente.”

“Não acredito nas resenhas boas, sofro com as ruins.”

“Ler exige certo isolamento e períodos longos de uma atenção algo atípica, e a maioria dos meus amigos não é escritor ou não tem aquela formação toda, e o que eles querem quando saem do trabalho é estímulo. Eles querem entretenimento, e nesse sentido a televisão e o cinema e a internet se adequam muito mais do que a arte literária.” 

Enciclopédico, maníaco, melódico, filosófico, poético, tocante, engenhoso e engraçado, Foster Wallace soa exatamente como sua literatura.

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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