Leonardo da Vinci

Publicada em 2017 (no Brasil, pela Intrínseca, numa caprichada edição de 556 páginas e outras 80 de notas e referências), a biografia de Leonardo da Vinci é uma delícia à altura do grande mestre renascentista. Culminando em uma análise sobre a arte e a ciência de Leonardo encapsuladas na Mona Lisa, em um capítulo que começa só na página 505, o livro me fez entender o porquê do fervor apaixonado pela pintura mais famosa do mundo.

Isaacson afirma, na página 518: “A tela transmite esse senso de união não apenas através da natureza, como também através do tempo. A paisagem mostra que a Terra e seus filhos foram moldados, esculpidos e alimentados por fluxos, desde as montanhas longínquas e os vales criados eras atrás até o pescoço pulsante e as correntes internas de uma jovem mãe florentina, passando pelas pontes e estradas criadas ao longo da história da humanidade. Dessa forma, ela foi transformada em um ícone da eternidade”.

Kenneth Clarke, sobre Leonardo e a Mona Lisa: “Sua curiosidade insaciável e seus saltos incansáveis entre assuntos variados foram harmonizados em uma obra única. Sua ciência, sua habilidade pictórica, sua obsessão com a natureza, seus insights psicológicos, todos esses elementos estão lá, equilibrados com tamanha perfeição que, à primeira vista, dificilmente os notamos”.

Assim, peregrinar até um museu francês para estar por alguns segundos diante da tela de 77×53 cm é mais do que ticar um item de experiências a serem vividas neste século de imagens e turismo, é prestar homenagem ao assombroso intelecto e à alma refinada do inigualável Leonardo.

Seguem aqui três coisas que aprendi sobre Leonardo e sua obra-prima nesta obra-prima de Walter Isaacson:

  • Quando se mudou para Milão, Leonardo enviou uma carta a Ludovico Sforza, o duque herdeiro, apresentando seu currículo e pedindo um emprego. Ao descrever suas habilidades, Leonardo lista projetos de engenharia como escavações, pontes e canhões, e só no item 11 menciona, de passagem, que sabe pintar.
  • Por volta de 1500, Leonardo e Michelangelo estavam vivendo em Florença e não se davam bem. Nem perto disso. Michelangelo, mais de vinte anos mais novo que Leonardo, era desrespeitoso e petulante, de acordo com os historiadores, e não perdia a oportunidade de mostrar seu desdém. Vale observar que os dois eram gays, mas Leonardo aceitava isso com mais naturalidade que Michelangelo, um cristão fervoroso e celibatário.
  • Apesar de suas múltiplas, inesgotáveis habilidades, é óbvio que Leonardo da Vinci é universalmente conhecido como pintor. A Mona Lisa se tornou sinônimo de arte e o museu que a abriga, o Louvre, recebe mais de 10 milhões de visitas por ano. Materialização de toda a habilidade e filosofia de Leonardo, a obra foi sendo composta por camadas finíssimas de delicadas pinceladas no decorrer dos dezesseis últimos anos de sua vida. Ela estava em seu ateliê no momento de sua morte, em 1519, na França, aos 67 anos de idade.
Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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