A arte da biografia

Por que ler biografias e por que escrevê-las? Lira Neto, biógrafo de figuras tão díspares quanto Getúlio Vargas e Maysa, compartilha conosco reflexões sobre o gênero e algumas de suas ferramentas de expert neste volume enxuto lançado pela Companhia das Letras no fim de 2022. “Repovoar o passado – eis um bom desafio para a biografia e para os biógrafos”, afirma o autor a certa altura do texto.

Reconstituindo a história da biografia, Lira Neto compila algumas verdades indiscutíveis (“uma biografia precisa estar atenta às conexões e tensões entre indivíduo e contexto”) e também dicas verdadeiramente práticas de escrita (“se seu biografado desapareceu por mais de três ou quatro parágrafos do texto no qual você está trabalhando, desconfie”). O escritor cearense relata situações reais de seu trabalho de campo como biógrafo, como por exemplo o fato de que, para escrever sobre Getúlio, foi necessária uma ida a São Borja, “para segurar, na palma da mão, um punhado da terra avermelhada da estância onde morou o ex-presidente.”

“A arte da biografia” me pareceu um livro escrito com grande generosidade e pouca pretensão, a não ser aquela de refletir sobre o gênero e suas particularidades e exigências. Interessante passo na carreira do jornalista que desponta como um dos maiores biógrafos de sua geração, “A arte da biografia” é uma leitura rápida e prazerosa, cuja publicação faz com que a literatura brasileira se enriqueça instantaneamente.

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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