Intocadas: minha luta contra a mutilação feminina

Em Intocadas: minha luta contra a mutilação feminina, Nice Leng’ete, em parceria com Elizabeth Butler-Witter, conta sua história de como escapou diversas vezes de passar pela cerimônia do corte. Esse é um costume não apenas do povo massai, ao qual Leng’ete pertence, mas de muitos outros (estima-se que cerca de duzentas milhões de mulheres ao redor do mundo tenham passado por algum procedimento desse tipo) e é mais uma forma violenta de dominação da mulher e de limitação de seus espaços.

Para os massai, o corte significa que a criança agora é mulher e está apta a se casar (com um homem que possa dar um bom dote) e gerar filhos para ele, além de cuidar da casa, cozinhar e certificar-se que tudo está em ordem. Além das mulheres que não sobrevivem, muitas que passam pelo corte não conseguem mais voltar à escola; por isso, o abismo de acesso à educação entre homens e mulheres apenas cresce. Leng’ete, então, que sempre foi incentivada a estudar, subverte essa tradição e se torna a primeira mulher da sua família a terminar o ensino médio, e a primeira da família a ingressar em uma universidade.

Mudar uma tradição de passagem, como é o corte, enraizada há séculos em uma cultura, uma daquelas tradições que funciona como formadora e aglutinadora de um povo, não é uma tarefa simples, mas Leng’ete usa da própria tradição massai de ouvir e levar à reflexão interna (em oposição a imposições externas) para substituir um rito de passagem cerceador e violento por outros ritos cerimoniosos e não-violentos.

É evidente que ainda há um longo caminho a ser percorrido para que cada vez mais mulheres não sejam submetidas ao corte, mas assim como Leng’ete, muitas outras têm dedicado suas vidas a busca por novas tradições que permitam que as vozes das mulheres sejam ouvidas e que nós, mulheres, ocupemos todos os espaços que quisermos.

TEDx de Nice Leng’ete em Amsterdam, 2012
Sou graduada em Letras e mestranda em Linguística (Unicamp) - Sociolinguística, mais especificamente. Sou professora de português e inglês, flamenguista nascida e criada em Campinas (SP), que adora fazer mala e viajar, mas odeia desfazer. Capricorniana… até demais.

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