PT, uma história

A menos que se descarte toda a mídia tradicional, brasileira e internacional, a produção científica das universidades e dos institutos de pesquisa oficiais, a historiografia política do Brasil e o simples bom senso, é inegável que o Partido dos Trabalhadores, fundado em 1980, tem uma participação na vida pública do país, principalmente no primeiro quarto deste século que se desenrola, que vai muito além do saque frenético aos cofres públicos. Aliás, considerando os itens arrolados acima, é possível supor que a afirmação de que o PT é sinônimo de corrupção e ponto final é uma simplificação fácil que não corresponde à realidade dos fatos. Negar-se a entender o percurso do maior partido político brasileiro em toda a sua complexidade é negar-se a entender a política brasileira em toda a sua complexidade; é entregar-se a uma formulação unidimensional e pré-formulada que tem muitas razões de ser — razões estas que também fazem parte do debate político amplo que uma nação diversa de 200 milhões de habitantes tem o desafio de empreender.

“Ah, mas o PT roubou”! Sem dúvida, há inúmeros casos comprovados de improbidade. Assim como há casos envolvendo o PP, o MDB e o PL, que fazem parte, aliás, do topo da lista que encabeça o número de citações da famigerada Operação Lava Jato. Mais citações, inclusive, do que o próprio PT. Como este último virou o bode expiatório de todas as práticas desonestas nos governos que sucederam a redemocratização do Brasil é também ponto central para o entendimento da nossa política. Como foi criado o clima que permitiu que hoje, por exemplo, pessoas estejam chorando em frente aos quartéis, clamando por ditadura militar, vandalizando e depredando os prédios da administração pública federal em nome de um candidato derrotado nas urnas, vivendo um medo profundo da volta do Partido dos Trabalhadores ao poder (e também expondo problemas psicológicos que vão além da mera ignorância, claro), é outro ponto incontornável cuja resposta é tudo menos simples.

Por essas razões, o livro do sociólogo Celso Rocha de Barros, lançamento da sempre impecável Companhia das Letas, é leitura obrigatória para aqueles que querem entender melhor o Brasil.

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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