Outras palavras: Seis vezes Caetano

Caetano Veloso é um dos pilares da música e da cultura brasileira. Pilar este que é plural, complexo, polêmico, assertivo e contraditório, mas é, inegavelmente, uma figura consistentemente presente na cena cultural e política do país. Mas nem sempre foi assim, esse Caetano com lugar incontestável na arte brasileira foi construído com muita chuva, suor (e um pouco menos d)e cerveja.

A tempestade Caetano chega na cena nacional quase que junto com outra trovoada, sua irmã, Maria Bethânia. Ao desembarcarem no Rio, para que Bethânia substituísse Nara Leão no Opinião, foram recepcionados por críticos da Folha com o apelido de “bahiunos” (baianos + unos, nove dado a invasores bárbaros na Europa) e com críticas com requintes de xenofobia e preconceito.

Ficaram, resistiram, ousaram, subverteram. Os quatro artistas baianos (Caetano, Bethânia, Gil e Gal) desestabilizaram as estruturas do que se convencionava como música popular brasileira, cada um a seu modo; sendo Caetano – talvez por sua personalidade tão leonina – o líder quando se tratava de expressar sua opinião de modo contundente e não fugir (algumas vezes até procurar) de polêmicas.

Em “Outras palavras: seis vezes Caetano”, da Editora Record, o jornalista Tom Cardoso busca apresentar ao público esse Caetano plural em seis ensaios: O santo-amarense, O polêmico, O líder, O vanguardista, O amante e O político.

O autor não chega perto de ser o escritor que Caetano é (até as sacadas do artista em entrevistas faladas, quando perguntado à queima roupa sobre temas polêmicos, são mais bem articuladas do que as de Tom Cardoso), por isso, a graça do livro está principalmente na quantidade de citações e trechos de entrevistas com o próprio Caetano.

De todo modo, esse é um livro interessantíssimo e uma boa leitura para engatar em “Verdade Tropical”, de Caetano Veloso (Companhia das Letras), e “Vivo muito vivo” (José, organizado por Mateus Baldi; principalmente nesse 2022 em que esse controverso e indispensável senhor da arte brasileira comemora seus 80 anos de vida.

Um Caetano de 2021 para ilustrar como ele ainda é O MAIOR.
Sou graduada em Letras e mestranda em Linguística (Unicamp) - Sociolinguística, mais especificamente. Sou professora de português e inglês, flamenguista nascida e criada em Campinas (SP), que adora fazer mala e viajar, mas odeia desfazer. Capricorniana… até demais.

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