Melhores de 2020

O ano de 2020 não foi exatamente um ano brilhante para a humanidade. Entre plots de um vírus mortal à solta e seus impactos nas economias nacionais que nem os mais clarividentes cientistas poderiam prever, polarizações insolúveis e distanciamentos compulsórios, vivemos nossas pequenas vidinhas enclausurados no esforço mundial de contenção do contágio e no meio do caminho aprendemos bastante coisa sobre nós e os outros.

Muitas pessoas passaram por perdas irreparáveis. Sentimos muito, muitíssimo. Houve momentos aqui em casa, na quarentena interminável no pequeno apartamento que dividimos, em que ficamos profundamente angustiadas após dois minutos de leitura das notícias. Tivemos crises de choro e, ainda mais frequentemente, crises de pura falta de paciência com as pessoas que víamos lotando restaurantes, praias e rolês quaisquer, sem contar as crises de raiva com os negacionistas das vacinas, pregadores das cloroquinas e eleitores das milícias cientificamente analfabetas. Conversamos muito sobre nosso desejo de retorno à normalidade, tentamos até criar coragem para ir ver o mar, mas, no final das contas, pesou mais a voz da consciência dizendo para ficarmos em casa sempre que possível. Nas vezes em que não pudemos, usamos máscaras e nos lambuzamos de gel como duas senhorinhas neuróticas. Apesar de toda a carga desse ano atípico sobre os nossos nervos, hoje fechamos esse ciclo de 365 dias com a certeza de que fizemos nosso melhor para participar dessa mobilização mundial que certamente deveria ter sido mais unânime.

Não podemos, no entanto, incorrer em ingratidão. Conseguimos nos manter a salvo, assim como os mais próximos a nós, e agradecemos muito por isso. Entre as coisas positivas que esse 2020 louco nos trouxe, também, estão as leituras que pudemos colecionar nesses meses de inevitável isolamento. Ao mudar nossos hábitos tão repentinamente, nosso tempo livre acabou sendo quase totalmente dedicado aos livros, séries e filmes que podíamos consumir dentro de casa. Infelizmente, não foi um ano de ir ao cinema (saudades, inclusive), mas os serviços de streaming funcionaram como loucos por aqui e acabamos vendo (ou revendo) um total de 87 filmes e 6 séries completas. Quanto às leituras, nosso total somado foi de 195 livros (um recorde pessoal para nós duas).

Segue aqui, então, nosso pequeno balanço e umas listinhas de sugestões para 2021 (que, esperamos, será um ano mais leve e de mais esperança para todos nós). Um abraço e um feliz ano novo a todos!

Os livros do ano segundo a Yumi:

Quinquilharias e recordações: biografia de Wisława Szymborska – Anna Bikont e Joanna Szczesna
O náufrago – Thomas Bernhard
Corpo: um guia para usuários – Bill Bryson
Gabriela, cravo e canela – Jorge Amado
Minha irmã, a serial killer – Oyinkan Braithwaite

Os livros do ano segundo a Natasha:

As guerrilheiras – Monique Wittig
The Miraculous Journey of Edward Tulane – Kate DiCamillo
A vegetariana – Han Kang
Água doce – Akwaeke Emezi
A literatura nazista na América – Roberto Bolaño

Os livros do ano da lista combinada:

Sobre os ossos dos mortos – Olga Tokarczuk
Para o meu coração num domingo – Wisława Szymborska
Orlando – Virginia Woolf
Vamos comprar um poeta – Afonso Cruz
Amares – Eduardo Galeano


Para finalizar, eis alguns highlights de séries e filmes que vimos este ano e recomendamos fortemente:

Séries:

  • The Good Place (a última temporada foi lançada no começo deste ano e foi incrível! Comentamos aqui)
  • Dark (a série alemã fenômeno da Netflix que fez todo mundo pirar em viagem no tempo e na língua louca que aqueles alemães falam)
  • Community (disponível tanto no Prime quanto na Netflix, tem 6 temporadas. As 3 primeiras são obras-primas do sitcom americano; as 3 últimas são apenas divertidas)
  • The Crown (a quarta temporada foi lançada em 15 de novembro e cobre a era Thatcher e o fenômeno Lady Di. Incríveis caracterizações e Olivia Colman nunca errou)
  • RuPaul’s Drag Race UK (excuse us, they originated the language)

Filmes:

  • Temporada (André Novais, 2018; comentamos aqui)
  • Parasita (Bong Joon Ho, 2019; comentamos aqui)
  • Jojo Rabbit (Taika Waititi, 2019)
  • 1917 (Sam Mendes, 2019; comentamos aqui)
  • Soul (Pete Docter, 2020)

Menção honrosa para as fases Audrey Hepburn (reassistimos My Fair Lady, Sabrina e Breakfast at Tiffany’s apenas para confirmar que Audrey continua sendo a rainha) e Kate McKinnon (tudo começou com Saturday Night Live e, quando vimos, estávamos chorando de rir com GhostbustersThe Spy Who Dumped Me e Rough Night: McKinnon é a mulher mais engraçada do mundo).

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *