Chimamanda Ngozi Adichie

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora pop. Mas muito além do mainstream, a autora figura entre os maiores nomes das literaturas africanas (chamada por alguns críticos de “a próxima Chinua Achebe” – este, por sua vez, é conhecido como o pai das literaturas africanas) e das literaturas em língua inglesa. Mulher, negra, escritora, professora, filha de sobreviventes da guerra do Biafra, Chimamanda é uma das grandes vozes de África na atualidade: escreve com força e autoridade acerca as feridas – muitas das quais nunca cicatrizarão – resultadas do extenso e violento período de colonização inglesa vivido pela Nigéria. 

O território que hoje é a Nigéria foi, em linhas gerais, formado a partir da junção – não voluntária – de três grupos étnicos: igbos, iorubás e haussás, com características e crenças bastante diferentes. Por ser igbo, os costumes desse povo são cuidadosamente retratados em suas obras.

Hibisco roxo (2003) é um romance esteticamente perfeito (como livro de estreia, contribuiu muito para que Chimamanda recebesse o prestígio que tem). Nele, somos apresentados à vida de Kambili e sua família, e o contraste entre a  religião igbo e a religião branca, bem como questões de gênero (poder masculino e submissão feminina) são colocadas em pauta.

Meio sol amarelo (2006) talvez seja o livro “mais igbo” (se isso for possível), uma vez que o pano de fundo para esse romance – que mostra uma autora mais madura – é a guerra do Biafra, uma das maiores guerras civis do século XX em que a fome foi usada como maior arma do Ocidente contra o povo igbo, que pedia independência e a criação do país Biafra. Um livro político:  Chimamanda propõe-se a resgatar o tema de Biafra do esquecimento e colocar as mulheres (as personagens ficcionais Olanna e Kainene) como protagonistas, em detrimento do papel real em que elas tiveram em grande parte da história da Nigéria.

Em No seu pescoço (2009), essa incrível romancista mostra que é também uma contista excepcional. Em seus doze contos, encontramos temas recorrentes em sua obra: a preocupação com estereótipos e lugares comuns, a experiência de diáspora e a militância em favor da igualdade racial e de gênero. 

O último romance de Chimamanda publicado até agora é Americanah (2013). De certo modo, esse foi o livro responsável pelo início do sucesso dela no Brasil. Nessa obra, o tema principal é a imigração: Ifemelu, mulher nigeriana que deixa Laos e se muda para estudar em Princeton, nos Estados Unidos, se depara com um profundo choque entre culturas. Nessa dinâmica, temas relacionados a desigualdade racial e de gênero surgem novamente. Além disso, a reflexão sobre os próprios costumes e a consequente aceitação de raízes no contraste com culturas diferentes é uma questão muito bem trabalhada pela autora, que também é imigrante.

Além desses livros, há três ensaios de Chimamanda publicados no Brasil: Sejamos todos feministas (2014), Para educar crianças famintas – um manifesto (2017) e O perigo de uma história única (2019). O primeiro e o último são fruto de dois TED talks feitos por Chimamanda, que além de ser uma escritora incrível, tem um sotaque lindo:

Sou graduada em Letras e mestranda em Linguística (Unicamp) - Sociolinguística, mais especificamente. Sou professora de português e inglês, flamenguista nascida e criada em Campinas (SP), que adora fazer mala e viajar, mas odeia desfazer. Capricorniana… até demais.

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