Norwegian Wood

Se você reparar, Norwegian Wood é uma grande fantasia romântico-erótica do Murakami, construída sob diversos pretextos (que pontualmente atingem excelente literatura, inclusive), e, de maneira geral, ilustra bem a masculinidade obcecada com a própria genitália. Essencialmente, a história de Toru Watanabe sugere que homens e mulheres heterossexuais não têm uma zona de interação fora das nebulosidades das trocas sexuais, o que só pode ser uma simplificação. Assim como seria uma simplificação chamar a obra de Murakami de machista. Ele é um homem nascido em 1949 no Japão, em uma cultura tradicionalista ao extremo. É claro que ele é machista. Mas seus livros são mais que isso. É inegável que eles têm uma sensibilidade excepcional. O problema é que muitas vezes não conseguem evitar certas armadilhas, para usar uma expressão que já usei neste parágrafo, da masculinidade obcecada com a própria genitália. O que é uma pena, pois gostei muito de algumas coisas que li do Murakami.

Apesar da coragem narrativa para encadear uma série tão grande de suicídios no enredo, o autor trabalha bem esse plano da história, examinando laços afetivos entre amigos e familiares com delicadeza. O problema se dá no plano dos relacionamentos românticos e sexuais do nosso protagonista, um jovem reservado e aparentemente fascinante – as mulheres se jogam em seus braços. Toru preza muito pela própria integridade, e comete todo o tipo de deslealdade interpretando seu próprio código moral e as situações ao seu redor de maneira estabanada e indulgente. Ele sabe que o leitor vai perdoá-lo, já que ele é apenas um rapaz com boas intenções, recém-saído de um evento traumático. Além disso, os homens e as mulheres são assim mesmo. Especialmente as mulheres, as mulheres são assim mesmo, não há muito o que um moço nobre possa fazer a não ser oferecer a elas um refúgio cavalheiresco e um pinto amigo. Pois é.

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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