Hoje, faz 24 anos que Caio Fernando Abreu morreu em Porto Alegre. Um dos meus escritores preferidos, Caio foi uma verdadeira febre que tive no final da adolescência, quando li um conto seu pela primeira vez – Linda, uma história horrível, ainda lembro. A poesia de sua voz, por vezes dark mas sempre profunda daquele jeito desmedido que propicia lirismos constantes, foi uma grande ferramenta de auto-conhecimento no início da minha vida adulta, quando fiquei frente a frente com a minha própria sexualidade.
Caio me acompanha desde então. Uma das coisas mais emocionantes que me aconteceram foi poder estar na Casa Contemporânea para o lançamento de A vida gritando nos cantos, da Lara Souto Santana – uma amiga querida que se tornou uma das maiores especialistas em Caio no Brasil – uma seleção de crônicas ainda inéditas em livro. Naquela ocasião, pude conversar um pouco com Rubens Ewald Filho e Paula Dip, grandes amigos de Caio, e seus depoimentos e homenagens e leituras na noite paulistana me fizeram sentir toda aquela poesia de novo. Foi lindo. (Caio tinha muitos amigos mas provavelmente nem desconfiava que ia se tornar tão querido por tanta gente – haja vista inclusive a enxurrada de memes com frases atribuídas a ele que a internet produz incansavelmente. De qualquer maneira, para mim, Caio será sempre um grande amigo, daqueles que se aproximam de maneiras misteriosas: desde ontem, tenho lido sem parar os contos de Estranhos estrangeiros e Os dragões não conhecem o paraíso. Natasha me atentou para o aniversário de morte de Caio: hoje, 25 de fevereiro. Eu nem tinha me lembrado.)
Uma joaninha pousa ao lado da luminária bem agora e me faz pensar em visitações. Caio era desses, Virgem com ascendente em Escorpião e lua em Capricórnio, adorador de Oxum e Iemanjá, cristais transcendentais e chás purificadores: sempre além do meramente visível das coisas. Acredito que algo da dor e da leveza de Caio esteja um pouco presente em tudo, então aceito o pouso da joaninha como um lembrete de companheirismo e de brevidade: Caio morreu aos 47 anos de idade, deixando milhares de amigos e muitas saudades.
“Porque eu também sinto medo, e haverá a morte um dia. A vida é apenas uma ponte entre dois nadas e tenho pressa.” (em Pela noite, Estranhos estrangeiros, p. 115)