Top 10 leituras deste ano cheio de boas leituras. Não foi fácil escolher só dez livros, mas fica aqui o registro dos que mais nos impactaram nos últimos meses:
• Leonardo da Vinci, Walter Isaacson (Editora Intrínseca) – A biografia de um homem excepcional pelo especialista em biografias de homens excepcionais (Isaacson também biografou, entre outros, Steve Jobs e Albert Einstein). Leitura deliciosa, recheada de imagens de encher os olhos, numa edição caprichada da Intrínseca.
• David Copperfield, Charles Dickens (Penguin Classics) – Que livro! Que imaginação exuberante! A leitura em inglês foi um gostoso desafio em que recorri a dicionários e anotações, e ao fim do qual senti que tinha acabado de me apossar de algo infinitamente precioso.
• Moby Dick, Herman Melville (Editora 34) – A maneira como Melville compõe seu emaranhado de eventos e reflexões é uma força da natureza, tanto pela profundidade quanto pela abrangência de seu alcance. Não admira que o cenário escolhido tenha sido o vasto oceano, e o herói, um imenso cachalote. A edição lindíssima da 34 fez tudo ainda melhor.
• Do que eu falo quando eu falo de corrida, Haruki Murakami (Alfaguara) – Vale a pena ler essas memórias da escrita e do corpo para aprender mais tanto sobre a escrita quanto sobre o corpo. A certa altura do livro, diz Murakami: “A maior parte do que sei sobre escrever, aprendi correndo todos os dias. São lições práticas, físicas. (…) Sei que se eu não tivesse me tornado um corredor de longa distância quando me tornei romancista, minha obra teria sido vastamente diferente.”
• Escrever é muito perigoso, Olga Tokarczuk (Todavia) – Para a ganhadora do Nobel Olga Tokarczuk, escrever é muito perigoso. Também é difícil, excêntrico, intuitivo, mediúnico, essencial e uma atividade da qual ela basicamente não gosta. Nesta coletânea de ensaios e palestras, organizada pela autora durante a pandemia, é possível vislumbrar a imensidão de sua cultura literária, a profundidade de sua sensibilidade humanista e os meandros de seus processos criativos.
• Escute as feras, Nastassja Martin (Editora 34) – Um relato impactante da antropóloga francesa e seu encontro dramático com um urso nos bosques congelados da Rússia, enquanto vivia com os Evans. Uma reflexão potente a partir de uma cosmologia completamente diferente da ocidental.
• Verdade tropical, Caetano Veloso (Companhia das Letras) – Nesta autobiografia, a história do maior compositor brasileiro e da cultura brasileira se entrelaçam numa prosa de beleza inexplicável.
• O desejo dos outros, Hanna Limulja (Ubu Editora) – A partir da vivência com os Yanomami, a antropóloga Hanna Limulja reflete sobre a importância do sonho na interpretação do mundo desse povo e conclui que a ancestralidade é a chave para a possibilidade de um futuro global.
• O continente, Erico Verissimo (Companhia das Letras) – Primeiro volume da maior saga da literatura brasileira. Aqui, a pena impecável do grande Erico nos leva por séculos de história do Rio Grande do Sul, da época das missões à Revolução Federalista, numa trama familiar envolvente, povoada de personagens inesquecíveis.
• É a Ales, Jon Fosse (Companhia das Letras) – Em É a Ales, do mais novo condecorado com o Nobel, o norueguês Jon Fosse, vemos alguém que vê alguém olhar pela janela, para o fiorde, o mar e o frio norueguês. É Signe que olha para Asle, o marido que saiu de barco há mais de vinte anos e nunca mais voltou. O presente se mistura com o passado (seria possível pensar na dinâmica das ondas, em que uma quebra por cima enquanto outra repuxa por baixo) e o movimento resultante é algo que faz parte da tessitura dos fatos humanos, vibrando desde o subterrâneo; em outras palavras, uma profunda revelação – aquilo que a literatura faz melhor que qualquer outra arte.