Rádio Imaginação (Seiko Ito, 2013) é um livro triste e cativante, narrado em primeira pessoa pelo DJ Ark, que apresenta seu programa não através de ondas radiofônicas, mas sim em “ondas de tristeza”. O DJ Ark está preso no alto de um cedro depois do terremoto de 9.1 graus de magnitude que atingiu o Japão em 2011 e do tsunami que se seguiu. “Os misteriosos caminhos do destino transformaram Fuyusuke Akutagawa no DJ Ark, que está fazendo uma transmissão histórica”. A transmissão chega a diversas pessoas que também estão em situações dramáticas naquele 11 de março, e vai se formando no ar uma teia de vozes e energias que aos poucos se revela uma espécie de conexão de almas pairando sobre a devastação do plano material. Enquanto percebe e aceita sua real condição, o DJ Ark vai nos contando sua vida e tocando músicas que vão de Mozart e Monkees a Sinatra e Tom Jobim (na página 75, inclusive, temos “Águas de março”). Impossível não lembrar de Murakami.
Apesar de não ser fácil, já que o tema dificilmente poderia ser mais pesado (o tsunami matou mais de 20 mil pessoas), a leitura é fluida e a prosa leve de Ito traz à luz, com sensibilidade, pequenos testemunhos da grande tragédia. A capa desta edição da Companhia das Letras, de Alceu Chiesorin Nunes com ilustração de Adriana Komura, dá conta de capturar a estranha e doce vibração do livro. Ela me chamou a atenção logo de cara, e retornei a ela inúmeras vezes enquanto lia.
Enfim, Rádio Imaginação foi um ótimo acréscimo à nossa ainda pequena biblioteca de japoneses contemporâneos.