O livro com que Erico estreia, em 1932, não é exatamente uma obra-prima à altura do criador de O tempo e o vento. O próprio autor, ao retornar a Fantoches quarenta anos depois, reconhece algumas faltas que o seu eu de 27 anos havia cometido por inocência ou inexperiência. A edição comemorativa publicada em 1972 – quando a editora Globo ainda era a casa de Erico – trouxe uma série de ilustrações e anotações às margens do contos de Fantoches, algumas delas hilárias – e a maioria num tom consideravelmente severo de autocrítica.
A Companhia das Letras, que hoje publica Erico no Brasil, lançou em 2007 uma edição caprichadíssima, inspirada no projeto da Globo. Trazendo os comentários de Erico e também outros contos do autor, com direito a prefácio de Moacyr Scliar, a edição conversa com toda a linda coleção que a Companhia dedicou a Erico desde os anos 2000, e que venho colecionando com entusiasmo (por enquanto, temos 14 volumes na nossa biblioteca).
A leitura vale mais a pena pelos comentários do que pelos contos em si – apesar de que é sempre bom lembrar que o autor daqueles contos viria a se tornar um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. É fascinante entrar na cabeça de Erico: além de ser um desenhista surpreendentemente competente, ele parece nos conceder permissão e intimidade o suficiente para rir com ele e dele. As anotações de “Fantoches” servem também, enfim, como uma espécie de aula ou oficina àqueles que gostam do processo de escrita.
Um belo achado na Livraria Sebinho em Brasília, quando estivemos por lá em janeiro.
