Paulina Chiziane ficou conhecido principalmente por Niketche: uma história de poligamia (2002), mas a indicação de hoje fica para outros romances menos conhecidos da autora: Balada de amor ao vento (1990), primeiro romance da autora, e Ventos do apocalipse (1995).
Balada de amor ao vento
Nesta Balada de amor ao vento (1990), Paulina Chiziane adianta alguns dos temas que lhe são caros e que serão explorados em seu máximo em outro livro, que recentemente ficou mais conhecido porque entrou na lista de grandes vestibulares de SP – Niketche: uma história da poligamia.
A história de Sarnau – narrada por ela mesma já idosa – é um mar de dureza e sofrimento com ilhas de doçura e alegria. O cruel destino da mulher moçambicana (neste caso, mas não é tão restrito assim) de casar, parir, cozinhar para seu homem, não brigar com as outras esposas de seu marido, e ainda estar perfumada e sorridente enquanto faz isso é retratado com a prosa poética que só uma grande contadora de histórias como Chiziane sabe fazer.
Entrelaçando questões de gênero e poder, o peso da opressão sobre a mulher – seu corpo e sua mente – disfarçado de religião ou tradição é retratado com sensibilidade nesse livro curto, mas intenso.
Ventos do apocalipse
Após a Guerra de Independência (1964-1974), Moçambique passou por uma guerra civil de 1976 a 1992, em que estima-se que mais de 1 milhão de pessoas morreram, por combate ou pela fome resultante do conflito.
Em Ventos do Apocalipse (1999), a mãe do romance moçambicano retrata o horror dessa guerra e os traumas de um povo marcado pela violência brutal do colonialismo e que ainda sofre com o legado colonial.
Edward Said aponta a invocação do passado como uma estratégia de interpretações do presente e no caso da obra de Chiziane, a ameaça tão recente dos dezesseis anos de terror da guerra é metonimizada em 21 noites de tormento e violência com uma perspectiva – ou talvez esperança – de liberdade presente e futura.
A prosa de Paulina Chiziane, que é ao mesmo tempo didática e lírica e adquire maturidade em comparação ao seu primeiro romance (Balada de amor ao vento, 1990), também publicado pela Companhia das Letras, que está investindo em uma coleção muito boa dos livros dessa que é uma das maiores autoras do século XX/XXI.