Noemi Jaffe, paulistana, é doutora em literatura brasileira pela USP, professora e crítica literária. Este pequeno livro, 15×12 cm, 190 páginas, é resultado de muitos anos de aulas, palestras e reflexões sobre a literatura e o fazer literário. O tamanho enxuto importa, já que aqui não há espaço para digressões, academicismos ou frases palavrosas. Jaffe é clara, direta, e começa sua introdução afirmando que Escrita em movimento – Sete princípios do fazer literário “não pretende ser um manual de escrita criativa”.
De fato, o trabalho é mais uma coleção de ideias bem organizadas ao redor de sete princípios: palavras, simplicidade, consciência narrativa, originalidade, estranhamento, detalhes e experimentação. Entre cada seção, há pequenos textos de autoria de alguns autores contemporâneos, como Milton Hatoum, Jeferson Tenório e Edimilson de Almeida Pereira. De quebra, há, ainda, ao final de cada capítulo, uma lista de sugestões de exercícios práticos de escrita. Por exemplo: “Escolha de modo aleatório palavras em dicionários e crie frases ou páginas a partir delas”, ou “Encaixe aleatoriamente palavras numa página em branco, para depois preenchê-la com um texto”. Brinquei com alguns exercícios e pretendo me deter mais neles numa segunda leitura.
Fui anotando passagens interessantes conforme lia (por exemplo, na página 14: “Diferentemente dos outros usos da linguagem, mais funcionais e utilitários, a literatura não tem função definida: meio e fim coincidem”; ou, na página 149, algo instrutivo e curioso: “Flaubert reclamava em suas cartas de estar cansado de estudar inúmeros livros de anatomia, somente para poder descrever o pé de Madame Bovary da forma mais fidedigna possível”) e acabei anotando quase o livro inteiro.
Uma leitura inspiradora para qualquer amante da literatura, escritor ou não, este volume da Companhia das Letras foi um excelente acréscimo à nossa biblioteca de não-ficção.