“Notes from a small island” é um livro de viagens escrito no estilo inimitável de Bryson no ápice do seu fio cômico (eu diria até que algumas piadas ficariam sem lugar no livro, caso ele tivesse sido publicado agora ao invés de em 1995). Em visita à Grã-Bretanha, o jornalista americano viaja por toda a ilha, de ônibus e trem, e nos oferece insights impagáveis sobre a cultura e o caráter britânicos. Bryson é casado com uma inglesa e morou na Inglaterra por mais de vinte anos, então talvez isso dê a ele certa liberdade poética, digamos, para usar todo o seu penetrante arsenal observacional na tarefa. O resultado, é claro, é um livro divertido e interessante (como, devo reforçar, é absolutamente tudo o que Bryson escreve).
Por que viajar? A resposta a essa pergunta é diferente de pessoa pra pessoa, de Marco Polo a George Mallory (que respondeu “Porque está lá” à pergunta “Por que escalar o Monte Evereste?”, o que é um conceito interessante: viajar porque é uma possibilidade oferecida pelo espaço), mas o sentido geral invariavelmente aponta para algo entre a experiência do deslocamento e o fascínio do diferente. Gosto de viajar, gosto da quebra da rotina que as viagens proporcionam e a aparente elasticidade do tempo que permite que criemos memórias intensas e duradouras em poucos dias. Porém, confesso que antes de cada viagem me arrependo de ter topado sair de casa para enfrentar horas de carro ou aeroporto, mais aquelas poltronas não exatamente confortáveis de avião, apenas a fim de chegar a um destino que certamente não será o meu lugar preferido no mundo, já que meu lugar preferido no mundo é minha casa.
Quando chego nessa etapa da viagem, ou seja, o momento de sentir um misto estranho de ansiedade e preguiça de ir viajar, Bryson sempre me ajuda. Numa das passagens de “Notes from a small island”, encharcado de uma tempestade depois de perder um ônibus, num café em Blaneau Ffestiniog, no País de Gales, Bryson escreve: “Eu assistia à chuva caindo na rua lá fora e disse mim mesmo que um dia isto seria vinte anos atrás”. Viajar não tem relação apenas com o espaço, mas também com o tempo. Ele passa, e talvez ao viajar mostremos a ele que passamos também, que temos algum poder sobre nossa insuportável miudeza.