Lutas e metamorfoses de uma mulher e Monique se liberta

Ontem terminei esses dois livros do Édouard Louis, Lutas e metamorfoses de uma mulher (2021) e Monique se liberta (2024), os dois publicados no Brasil pela Todavia. Volumes pequenos, li os dois em duas sentadas (e nessa ordem; um é uma espécie de continuação do outro). O primeiro me impactou (novamente, assim como o profundamente bourdieusiano Mudar: Método) pela sinceridade desarmante e belo alcance poético.

Louis descreve as lutas de sua mãe, mulher simples nascida em uma cidadezinha no norte da França, destinada a se envolver com homens alcoólatras e violentos, e vasculha seu passado em busca de entendimento. Com prosa hipnotizante (ele “afia cada frase como se afia a lâmina de uma faca”), reflete também sobre o fazer literário — um fazer burguês, no fim das contas, construído contra corpos como os de sua mãe.

Monique se liberta me levou às lágrimas. O relato apoteótico das fugas de sua mãe e a homenagem possibilitada pela literatura me fez gostar ainda mais de Louis e até da autobiografia contemporânea como um todo. Pelo menos da maneira com que Louis o pratica, o gênero me parece atingir um grau tocante de vulnerabilidade. E de coragem, claro, já que esse tipo de exposição também não é fácil e um trabalho comum na vida do escritor é tentar esconder coisas em plena luz do dia em meio à ficção. Gostei muito.

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).