Três livros para começar a ler Borges

Já leu Borges? Qual é o seu livro ou conto preferido? Caso queira começar a desbravar a obra desse grande (por aqui, diríamos que é o maior) escritor argentino, seguem aqui três dicas de leitura:

  • História universal da infâmia. Publicado em 1935, esse é um dos primeiros livros de Borges e é onde começam a aparecer alguns dos hábitos que levaria para a vida toda (por exemplo, a supressão das linhas entre o real e o apenas literariamente real, a inserção do arrabalde argentino na herança literária universal e muitos traços de seu estilo enxuto até o osso). O livro é uma coleção de biografias imaginárias (algumas, baseadas em pessoas que de fato existiram; outras, não) que tentam reconstituir as faces da infâmia, essa demonstração da natureza humana que cruza fronteiras nacionais e temporais, em suas manifestações particulares na forma de, por exemplo, um revendedor de escravos nos Estados Unidos do século XIX, uma pirata chinesa do século XVII ou mesmo o célebre infame Billy the Kid e sua morte ainda mais infame. Não é uma leitura necessariamente fácil (nenhum Borges é fácil, na verdade, porque o rigor da linguagem é sempre exigente, até nos textos menos filosóficos), mas é extremamente interessante e, por vezes, divertida. 
  • Antologia pessoal. Uma coleção bem ao gosto de Borges, selecionada por ele mesmo em 1961 – quando já era um escritor consagrado no mundo inteiro. Talvez seja a melhor opção para uma primeira leitura, já que contém amostras tanto de prosa quanto de poesia e, por ser uma antologia, pode nos dar uma boa visão de como Borges, o maior leitor do século XX, lia a si mesmo. Além disso, algumas das melhores peças de sua carreira se encontram aqui: A muralha e os livros, O enigma de Edward Fitzgerald, O zahir, O aleph, Poema dos dons, etc. 
  • Ficções. Para uma boa parte da crítica, esse livro composto de duas partes (O jardim de veredas que se bifurcam, 1941, e Artifícios, 1944) é o ápice da carreira de Borges. Nele, podemos encontrar textos clássicos que, além terem revolucionado a prosa em língua espanhola, também mudaram para sempre os limites e as possibilidades do ensaio literário. Pierre Menard, autor do Quixote, As ruínas circulares, A biblioteca de Babel e Funes, o memorioso, entre outros, se enfileiram nesse pequeno volume (são 169 páginas nessa bonita edição da Companhia das Letras) apresentando tal profusão de ideias que é impossível não ser arrebatado para o mundo fantástico de Borges. Para os apaixonados por literatura, Ficções é uma fonte inesgotável de prazer estético.  
Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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