Caetano Veloso – que é esse pilar “incontornável no debate público”, plural, complexo, assertivo, contraditório – é todo poesia, e vira prosa nas mãos dos quinze escritores que assinam os contos desse belo volume organizado por Mateus Baldi. A seleção de canções que inspiraram os contos vai desde as menos famosas – não só em português, mas também em italiano e inglês, como “Michelangelo Antonioni” e “Neolithic man” (a segunda menos reproduzida, de acordo com o Spotify, do extraordinário Transa, 1972) – até os grandes sucessos como “Terra” e “Tigresa”.
Em alguns dos contos, a referência a elas é um pouco mais transparente, mas nunca óbvia; em outros, essa relação é mais opaca, e talvez esses tenham sido meus preferidos. Foram os contos que deram um novo sentido, uma nova interpretação, para aquelas músicas que sempre aparecem nas minhas playlists e percorrem meu imaginário com uma interpretação específica que mais me surpreenderam.
Antes e depois da leitura de cada conto, eu ouvia a música, por vezes reproduzia novamente, duas, três, quatro vezes, e frequentemente voltei para revisitar trechos e passagens dos contos também. Quando terminei, fiz a Yumi ouvir Motriz (gravada no álbum Ciclo, por Maria Bethânia, em 1983) duas vezes e ler o último conto da coletânea: “A primeira mulher que cantou”, de Socorro Acioli, porque precisava caetanear e compartilhar com alguém a experiência multissensorial que esse livro me proporcionou.
A playlist no Spotify “vivo muito vivo” que criei para acompanhar a leitura está disponível aqui.