Cheiro de goiaba

Este belo livro de conversas entre Gabriel García Márquez e seu amigo, o jornalista e escritor colombiano Plinio Apuleyo Mendoza, é uma janela refrescante para a obra de Gabo e, também, para suas visões sobre família, amizade, fama e política. Recomendamos a leitura e copiamos aqui nossos trechos preferidos:

“Minha lembrança mais viva e constante não é das pessoas e sim a da própria casa de Aracataca onde morava com meus avós. É um sonho repetitivo que ainda persiste. Mais ainda: todo dia da minha vida acordo com a impressão, falsa ou real, de que sonhei que estou nessa casa. (…) De dia, o mundo mágico da minha avó me era fascinante, eu vivia dentro dele, era o meu mundo próprio. Mas à noite me causava terror.” (p. 15)

“Meu avô tinha perdido um olho de uma maneira que sempre me pareceu literária demais para ser contada: estava contemplando da janela do seu escritório um belo cavalo branco e de repente, sentiu alguma coisa no olho esquerdo, cobriu-o com a mão e perdeu a visão sem dor.” (p. 17)

“Acho que o segredo está em que continuamos entendendo as coisas como as entendíamos antes de nos casarmos. Isto é, o casamento, como a vida inteira, é alguma coisa de terrivelmente difícil, que é preciso tornar a começar desde o princípio todos os dias, e todos os dias de nossa vida. O esforço é constante e inclusive estafante, muitas vezes, mas vale a pena.” (p. 23)

“O diálogo em língua castelhana acaba por ser falso. Sempre disse que nesse idioma houve uma grande distância entre o diálogo falado e o diálogo escrito. Um diálogo em castelhano que é bom na vida real não é necessariamente bom nos romances. Por isso o trabalho tão pouco.” (p. 36)

“O coronel já estava velho, fazendo os seus peixinhos de ouro. E uma tarde pensei: ‘Agora sim que não tem mais jeito!’ Tinha que matá-lo. Quanto terminei o capítulo, subi tremendo para o segundo andar da casa, onde estava a Mercedes. Soube o que havia ocorrido, quando viu a minha cara. ‘O coronel já morreu’, disse. Deitei-me na cama e fiquei chorando por duas horas.” (p. 37)

“Acho que um romance é uma representação cifrada da realidade, uma espécie de adivinhação do mundo.” (p. 38)

“Em geral, um escritor só escreve um único livro, embora esse livro apareça em muitos tomos, com títulos diversos.” (p. 61)

“O tema tem sido uma constante da literatura latino-americana desde as suas origens e suponho que continuará sendo. É compreensível, pois o ditador é o único personagem mitológico que a América Latina produziu e o seu ciclo histórico está longe de ser concluído.” (p. 94)

“ – Que tipo de governo você desejaria para o seu país?
– Qualquer governo que faça os pobres felizes. Imagine!” (p. 113)

falando sobre tudo, menos logaritmo.

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