Parque de Farellones

Acordamos às 5 horas da manhã nos 2ºC de Providencia, Santiago do Chile. Para subir ao Valle Nevado, aonde iríamos originalmente, teríamos que estar na Ski Total, a principal agência que realiza passeios a essa que é a principal estação de ski do hemisfério sul, às 7:00. 

Nos trocamos (camadas e camadas de roupas contra o frio: uma meia de algodão, uma de lã e uma de ski por baixo de uma bota de neve, ceroulas térmicas e calças; uma segunda pele térmica, uma camiseta de algodão, um suéter de lã e um casaco de neve; luvas, touca e cachecol) e pegamos um Uber até a avenida Apoquindo, em Las Condes (perto de Providencia, umas três estações de metrô de Los Leones: a corrida deu 2.900 pesos, cerca de R$18). Estava escuro (pois nessa época do ano só amanhece em Santiago perto das 8:00) e, portanto, muito frio. 

A Ski Total ainda estava fechada, então atravessamos a rua e compramos um capuccino e um salgadão de queijo num minimarket (desses com letreiro padrão da Coca-Cola e dois senhores mal-humorados atrás do balcão). Comemos e ficamos rondando a agência, andando de um lado pro outro, jogando para o universo as seguintes perguntas: cadê todo mundo? Por que tanto frio mesmo com toneladas de roupas? Let’s call it a day, voltar para o apartamento e passar o dia debaixo das cobertas comendo Sahne-Nuss e assistindo a Sonia Abrão chilena?

Depois de alguma espera, veio um rapaz da agência ao lado, El Colorado, dizer que a Ski Total não subiria ao Valle Nevado naquele dia, pois a estação não abriria por alguma razão (depois descobrimos que é porque não havia nevado o suficiente no dia anterior). Decidimos, então, subir com a El Colorado a Farellones, um parque 500m e 20 curvas antes de Valle Nevado. A El Colorado faz o trajeto a 16.000 pesos por pessoa, cerca de R$88, ida e volta na excursão diária. 

O percurso é lindo. Lindíssimo. Principalmente nessa época do ano, com os picos todos forrados de branco. Da primeira vez que fomos ao Chile, no verão, os Andes estavam pelados; sobrevoá-los é sempre uma coisa linda, mas a neve os veste muito elegantemente:

A imponência da cordilheira vista da cidade se amplifica a cada metro de aproximação, e quando estamos no meio das montanhas num dia claro, é possível sentir o “tempo profundo” de que falavam os primeiros naturalistas e poetas românticos. As curvas na subida são fechadas mesmo e podem mexer com estômagos mais sensíveis, mas qualquer coisa você leva um Dramin e aproveita a vista. 

Chegamos ao parque em pouco menos de 2 horas, contando que paramos para fotos e para colocar correntes nos pneus. Pagamos 30.000 pesos chilenos por pessoa no ingresso, o que somou cerca de R$330. Na fila para entrar, passamos um frio do cão pois pegamos singelos -10ºC à sombra. Por alguns minutos pensamos que não íamos sobreviver. Mas achamos uns chalés do lado de fora do parque, na entrada oposta à bilheteria, na outra ponta do teleférico, e alugamos umas botas de pelo de alpaca por 6.000 pesos o par (totalizando pouco mais de R$60). 

Almoçamos uns sanduíches gostosos (mais caros que gostosos – 9900 pesos cada, R$54 -, mas gostosos) no Clodet, um restaurante também do lado de fora (dentro do parque há apenas uma cafeteria sem área interna aquecida e 3 food trucks).

Foi um dia relativamente caro e absolutamente gelado. Mas estar no meio da neve dos Andes, com a cordilheira mais antiga do mundo ao nosso redor, foi uma coisa linda, de tirar o fôlego, inclusive quando eu capotei do skibunda e rolei no gelo. Recomendamos o rolê: valeu cada centavo e cada medinho de gangrena por frio.  

Sou cientista social e antropóloga formada pela Unicamp. Sou pós-graduada em Gestão Escolar pela USP-Esalq e sou professora/coordenadora em uma escola internacional. Tenho muitas paixões, de caderninhos de anotações a corrida de rua, de Jorge Luis Borges a RuPaul's Drag Race, de Iga Swiatek a água com gás. Sou autora de Quarto mapa (2021) e Hi-fi da tarde e haicais noturnos (2023).

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